A BR-280 e a falta de compromisso do governo federal

BRUNO BREITHAUPT (*)

Na última quinta-feira, 16 de outubro, mais um capítulo da precária infraestrutura brasileira e catarinense foi escrito. A BR-280, importante ligação entre o litoral catarinense (São Francisco do Sul) e a fronteira com a Argentina (Dionísio Cerqueira), teve mais uma vez postergada o início de sua duplicação.

Desde o comprometimento com a duplicação, feita há seis anos pelo governo federal, houve pelo menos 20 entraves burocráticos ou jurídicos no processo. Ao mesmo tempo, foram verificados 5,3 mil acidentes, com 3,6 mil pessoas e mais de 140 mortos. A duplicação não começou em razão de ações na Justiça, simples entraves burocráticos, suspeitas de fraudes e até erros de digitação. Ou seja, em mais de seis anos, nenhum quilômetro de estrada foi duplicada.

O novo capítulo envolve mais um atraso. Depois de longa disputa judicial e administrativa, iniciada ainda no ano passado, o DNIT cancelou a licitação do lote 1 da duplicação da BR-280. O trecho entre o Porto de São Francisco do Sul e a intersecção com a BR-101, com 36 quilômetros, novamente ficará parado. A empresa que tinha apresentado a menor proposta financeira foi desabilitada nesta quinta-feira pelo DNIT, novamente postergando o início das obras.

Desta maneira, não apenas os moradores da região perdem, mas todo o Estado de Santa Catarina. Além do risco evidente à vida de quem trafega na rodovia, perdemos mais uma vez em competitividade, já que deixamos de ter uma ligação de qualidade entre nossos produtores e o porto de São Francisco do Sul. Com isso, perdemos geração de riqueza, emprego e renda, perdemos desenvolvimento econômico e aumento de qualidade de vida dos catarinenses, dificultando cada vez mais que o país saia da atual armadilha de baixo crescimento e custos elevados.

Especificamente no caso do comércio, a infraestrutura nacional deficiente, ao aumentar o chamado “Custo Brasil”, encarece os produtos e diminui a rentabilidade do atacado e do varejo. Com menor rentabilidade, a ampliação de estabelecimentos e a criação de novas vagas ficam prejudicadas. Desta forma, se por um lado os empresários fazem sua parte, melhorando processos e aumentando a produtividade interna das empresas, da porta para fora a situação só se deteriora, sendo a BR-280 mais um triste capítulo da falta de compromisso do Estado com o desenvolvimento das empresas e da economia.

(*) Presidente do Sistema Fecomércio em Santa Catarina.