ECONOMIA

Alta da inflação corrói capacidade de consumo em 2020

Atualizado em 13 dezembro, 2021

A inflação acelerou em dezembro e encerrou 2020 com aumento de 4,52% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), seguindo a tendência iniciada em junho, que se tornou mais intensa após agosto. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) fechou com 5,45%, segundo dados de dezembro divulgados na terça-feira (12/01) pelo IBGE.

As projeções do mercado e governo para ambos os índices ficaram um pouco abaixo do efetivamente constatado, o que pode levar a revisões de valores cuja atualização estava baseada nessas projeções como, por exemplo, o salário mínimo, cujo aumento estava previsto em 5,26% de acordo com a projeção do INPC para o último mês do ano. A principal diferença entre o IPCA e o INPC se refere às cestas de consumo, que no primeiro índice são representativas dos consumidores mais amplos, de 1 a 40 salários mínimos, e no INPC até 5 salários mínimos.

A variação do nível de preços é essencial para entender o poder aquisitivo dos consumidores e seu comportamento no período, assim como a dinâmica dos setores. Além disso, tais índices, junto a outros como o Índice Geral de Preços (IGP), são utilizados para atualização monetária de contratos, salários e benefícios no setor privado e público.Esses índices também permitem analisar a dispersão da inflação nos diversos itens e grupos de preços, de maneira que também se entenda melhor quais são os focos das pressões inflacionárias e seu potencial de mitigação ou espraiamento.

Dinâmica do índice

O ano de 2020 imprimiu uma dinâmica bastante específica e potencialmente preocupante à inflação no país. Dos 9 grupos de produtos e serviços analisados pelo IPCA, apenas o de Vestuário encerrou o ano com variação acumulada negativa (-1,13%), porém já apresenta variação positiva desde setembro. Por outro lado, os principais grupos que apresentaram variação acima da média foram o de Alimentação e Bebidas (14,09), Artigos de Residência (6,00%) e Habitação (5,25%).

O ano iniciou com patamares de inflação mais baixos e sofreu deflação nos meses de abril e maio, devido ao início da recessão econômica e a queda internacional no preço do petróleo e combustíveis, tornando o grupo de transportes o principal responsável pela retração. A inflação retomou em patamares um pouco superiores em junho e julho e passou a acelerar mais fortemente após agosto. As causas dessa dinâmica são diversas, porém predominam os aspectos relacionados ao comércio internacional, que foram afetados tanto pela pandemia como pela valorização do dólar, que restringe importações e estimula exportações, aumentando a escassez no mercado interno, assim como devido à política monetária relacionada a taxas de juros historicamente baixas e uma expansão do dinheiro em circulação.

Capacidade de consumo

Não apenas houve pressões setoriais e específicas, como a pandemia afetou o comportamento do consumidor e sua cesta de consumo. A principal influência negativa ocorreu no grupo de alimentos e bebidas, que não apenas apresentou uma inflação acumulada bem acima da média, da ordem de 14,09% no IPCA e 15,53% no INPC, como também aumentou sua participação e peso na cesta dos consumidores, passando de 19,34% em janeiro de 2020 para 21,03% em dezembro no IPCA, enquanto para o INPC o aumento foi de 21,99% para 24,00%. Além da alimentação, apenas os artigos de residência também aumentaram sua participação no IPCA, enquanto todos os demais grupos além de alimentação e bebidas reduziram no caso do INPC.

Isso significa que, na prática, a perda de poder aquisitivo dos consumidores foi ainda maior, especialmente nas faixas de renda menores, onde a proporção do grupo de alimentos e bebidas, assim como de habitação, são maiores e passaram a compor uma parcela ainda maior dos orçamentos familiares. Essa pressão negativa diminui a capacidade de consumo nos demais segmentos do comércio e serviços, principalmente aqueles cuja clientela é composta por consumidores dessas faixas de renda.

A análise dos subitens que compõem o índice permite avaliar a disseminação e espraiamento das pressões inflacionárias. Considerando os subitens que tiveram variação positiva, negativa e variação acima da média mensal do IPCA, observa-se que o movimento deflacionário foi concentrado em menos itens, e que a aceleração da inflação também foi paralela a um maior número de subitens variando positivamente, o que indica que as pressões inflacionárias também se disseminaram, por outro lado a partir de agosto e de maneira mais intensa em dezembro, o número de subitens que estavam variando acima da média se reduziu, o que indica uma maior concentração de subitens que estão exercendo as maiores pressões inflacionárias.

Em dezembro as maiores pressões se concentraram em itens como passagens áreas, transporte por aplicativo, energia elétrica, diversas frutas, legumes, carnes, grãos e derivados. O setor de materiais de construção também tem enfrentado uma inflação persistente e intensa ao longo do segundo semestre que acelerou entre a maioria dos seus itens mais básicos, como constatado pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), componente do IGP, assim como pelo grupo de reparos da seção de habitação do IPCA.

Pressões inflacionárias em 2021

O Banco Central e diversos analistas do mercado apontam que o primeiro trimestre de 2021 ainda enfrentará pressões inflacionárias até uma normalização da distribuição e oferta de alguns insumos e produtos que foram mais severamente afetados pela pandemia e crise no ano passado. Ainda assim, o controle inflacionário com sustentação da atividade econômica também dependerá da melhoria das condições macroeconômicas, principalmente em relação às contas públicas, o câmbio e a trajetória dos preços internacionais.

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