Suassuna emociona o público no Sesc de Cacupé

Atualizado em 12 agosto, 2013

O professor Ariano Suassuna emocionou e divertiu o público que lotou o auditório Ilha de Santa Catarina, do Sesc de Cacupé, na manhã desta segunda-feira, dia 12, em sua palestra-conversa-aula-espetáculo que marcou o início das comemorações pelos 65 anos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Santa Catarina. Nesta noite, a partir das 19h, a Fecomércio SC é homenageada em sessão solene na Assembleia Legislativa.

O presidente da Fecomércio SC, Bruno Breithaupt, saudou o escritor Ariano Suassuna antes da aula-espetáculo: "A Fecomércio tem a honra, no seu aniversário de 65 anos, de trazer a Santa Catarina um dos maiores escritores brasileiros, Ariano Suassuna, o romancista da Pedra do Reino, o dramaturgo do Auto da Compadecida, o poeta dos Sonetos com Mote Alheio, o criador do Movimento Armorial e de personagens absolutamente fantásticos como João Grilo, Quaderna e Caroba e muitos outros que nos fascinam há tantos anos, em livros, peças de teatro, filmes e minisséries de tevê. Desde a semana passada, quando anunciamos que a Fecomércio traria o professor Ariano Suassuna para esta palestra, os telefones da federação não pararam de tocar com as pessoas pedindo informações e querendo saber como fariam para conseguir um ingresso. Para nós, isso foi uma demonstração não só do prestígio do nosso conferencista, mas do acerto da nossa escolha em trazê-lo até vocês."

Em sua conferência, Ariano fala da coincidência de ter nascido numa capital que trocou de nome, como Florianópolis. "Tive a sorte de nascer em 1927, antes da mudança do nome da Paraíba para o de um sujeito que foi inimigo de minha família. Aqui também mudaram o nome da Desterro para Florianópolis, em homenagem ao tirano Floriano Peixoto. Mas os jovens deram um jeito de arrumar um nome mais simpático: Floripa".

João da Cruz

Ariano disse ser um leitor voraz desde pequeno, quando herdou a biblioteca do pai. E lembrou de um livro sobre a história da revolução federalista, que marcou a antiga Desterro, e da morte do almirante Saldanha da Gama. Tempo de guerras e degolas. Falando de Floriano Peixoto, disse se identificar com Desterro. "O nosso querido João da Cruz e Souza nasceu no Desterro. Tenho uma admiração enorme por Cruz e Souza. São três os poetas que mais admiro e que me influenciaram. Gregório de Matos, Cruz e Souza e o meu conterrâneo paraibano Augusto dos Anjos".

Depois, defendeu a língua portuguesa, que segundo ele, Cervantes dizia ser a mais bonita, a mais sonora. Mostrando um copo à plateia, afirmou: "Copo é uma palavra bonita. Agora, inglês é uma língua pobre. Copo em inglês é glass. Copo de vidro é glass de glass". E em seguida, dizendo que tinha em comum com Fidel Castro o hábito de falar demais, passou a recitar trechos do Sermão da Quarta-Feira de Cinzas, do Padre Antonio Vieira ("Esta nossa chamada vida não é mais que um círculo que fazemos de pó a pó: do pó que fomos ao pó que havemos de ser"), e de poemas de Cruz e Souza ("Fulvos leões do altivo pensamento / Galgando da era a soberana rocha"), Federico García Lorca ("Verde que te quero verde / verde vento, verdes ramas") e Augusto dos Anjos ("Somente a ingratidão, esta pantera / foi tua companheira inseparável"), para falar do poder das imagens doidas dos poetas: "A poesia de Cruz e Souza é estranha. Eu não gosto de poesia fácil não. Gosto de poesia doida. Por isso gosto de mentiroso. Poeta é mentiroso, inventa coisas".

Dizendo-se contente por perceber o grande número de jovens na plateia, Suassuna afirmou que, infelizmente, os jovens de hoje só recebem osso em vez de filé. E citou um trecho de uma música da banda Calypso e suas variações sobre o mesmo tema para comprovar: "Se você quer me conquistar, você tem que suar. Se você quer me conquistar, você tem que balançar. Se você quer me conquistar, você tem que rebolar. Uouououou".

Quixotesco

Sobre essa sua luta pela preservação da cultura brasileira, Suassuna disse que, certa vez, um jornalista pernambucano disse que ele era um Quixote arcaico contra a modernidade. "Disse pra ele, você é um incompetente, porque você quis me criticar me comparando ao personagem que eu mais gosto. Por isso eu divido as pessoas em duas categorias: as que concordam comigo, e as que estão equivocadas. Eu não tenho dinheiro, não tenho poder. Mas tenho uma língua afiada e ela está a serviço do povo brasileiro".

Para Suassuna, a tal cultura de massas está transformando todo mundo em um bando de carneiros. "O Brasil, um país desses, que tem uma cultura como a que o Brasil tem, não precisa ficar importando coisas. Tudo bem importar o que é bom. Me chamam de xenófobo, mas não tenho nada contra a cultura dos outros países. Devo muito a Cervantes, a Calderón de la Barca, a Góngora, a Dostoievski, a Tolstói. Mas essa Lady Gaga? Por sinal, é bem feinha".

Suassuna citou o pensador francês Henri Bergson, que escreveu sobre os vários tipos de riso. "Para ele, o humorístico era o mais refinado. Dom Quixote talvez seja o livro mais triste que se escreveu, porque ele diz que se você é generoso, nobre, procura fazer o bem, você é ridículo. O livro é engraçadíssimo. Mas eu assumi a missão de mostrar essas coisas ridículas. Eu tenho senso para perceber as coisas ridículas. Vocês perceberam quanta coisa ridícula estão nos obrigando a ouvir e a engolir?", disse Suassuna, que encerrou sua palestra mostrando imagens do livro O Decifrador, do genro e assessor Alexandre Nóbrega, que documentou as viagens e o cotidiano do escritor, que encerrou a palestra dizendo como conquistou a mulher Zélia e, no final, recitou um dos Sonetos de Mote Alheio, dedicado à ela. 

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