MERCADO

Mercado de trabalho brasileiro encolheu por conta da pandemia, aponta IBGE

Atualizado em 29 maio, 2020

Os dados da PNAD Contínua referentes no trimestre móvel encerrado em abril trazem um sinal de alerta sobre o mercado de trabalho brasileiro. A taxa de desocupação cresceu 0,4 pontos percentuais em relação ao trimestre móvel imediatamente anterior (jan-fev-mar), atingindo 12,6%. O setor privado formal foi o mais prejudicado. Isso se deve ao fato de que o número absoluto de desocupados aumentou em 898 mil pessoas (7,5% na comparação trimestral), mesmo que a queda na ocupação tenha sido de 4,9 milhões de pessoas (-5,2% na comparação trimestral).

A maior parte dessa queda foi canalizada para fora da força de trabalho, que presencia níveis inéditos na série histórica, aumentando em 5,193 milhões (7,9% na comparação trimestral, o que inclui o aumento vegetativo da população em idade de trabalhar), e que representa hoje um total de 70,9 milhões de brasileiros. Isso afeta a taxa de participação na força de trabalho, que atingiu 59%, isto é, o menor nível da série histórica iniciada em 2012, queda de 2,7 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior (nov-dez-jan), maior variação negativa da série também.

A metodologia da PNAD Contínua reconhece como desocupado “pessoas sem trabalho que tomaram alguma providência efetiva para consegui-lo no período de referência de 30 dias, e que estavam disponíveis para assumi-lo na semana de referência”, de maneira que pessoas fora da força de trabalho ou não tomaram tais providências ou não possuíam disponibilidade para assumir na semana de referência. Dessa maneira, observar a taxa de desocupação pode mascarar o nível de ocupação e a situação do mercado de trabalho, sem considerar aqueles que não estão (mais) buscando emprego ou não possuem disponibilidade.

No caso daqueles que desistiram de procurar emprego por não ter esperanças de encontrar, os denominados “desalentados”, houve tendência de alta com o ingresso de 328 mil pessoas nesta condição, um aumento de 7,0% em relação ao trimestre anterior e de 3,1% em relação ao mesmo trimestre do ano passado – ultrapassando pela primeira vez na série histórica a marca de 5 milhões de pessoas, após a tendência de alta que se iniciou em 2015, quando tal número era de 1,6 milhão de brasileiros. A porção mais considerável daqueles que saíram da força de trabalho, porém, veio a constituir a chamada “força de trabalho potencial”, que são pessoas em idade de trabalhar que “realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis”, ou então que “não realizaram busca efetiva por trabalho, mas gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar”, que cresceu 24,0% na comparação trimestral, com incremento de 1,88 milhão de pessoas.

Se a população que deixou de estar ocupada tivesse se tornado desocupada ao invés de deixar a força de trabalho, a taxa de desemprego atingiria 15,8%, resultado pior do que na última crise de 2015 e 2016, que devido a defasagens típicas atingiu seu ápice no mercado de trabalho somente em março de 2017 com 13,7% de desemprego, já que não houve um movimento tão intenso de saída da força de trabalho como ocorre agora, ao contrário é possível observar um aumento da participação na força de trabalho ao longo desta crise anterior (2015-2017). A velocidade do movimento comparado entre as duas crises demonstra não só a maior intensidade desta, como também uma maior flexibilidade no mercado de trabalho atual.

Queda na ocupação

Do ponto de vista do grupamento de atividade, a queda na ocupação atingiu fortemente o setor de comércio, que foi o mais foi afetado em termos absolutos, com queda de 1,2 milhão de ocupados, variação negativa de 6,8% na comparação trimestral. Outros grupamentos duramente afetados, até de maneira mais grave em termos relativos, foi o de Alojamento e Alimentação (-699 pessoas ocupadas ou -12,4% de variação trimestral), Serviços Domésticos (-727 mil pessoas ocupadas ou -11,6% de variação trimestral), Outros Serviços (-366 mil pessoas ocupadas ou -7,2%). Os setores menos afetados foram o de Transporte, armazenagem e correio (-242 mil ou -4,9% na comparação trimestral) e o de Informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-218 mil ou -2,1% na comparação trimestral).

Deve-se levar em conta que parte deste movimento se deve a um movimento sazonal de queda na ocupação que é tipicamente observado até março de cada ano, com o fim da temporada de verão, mas que geralmente se reverte a partir de Abril, o que não ocorreu neste ano devido à crise e pandemia. A massa de rendimento real habitual de todos os trabalhos das pessoas ocupadas recuou 3,3% na comparação trimestral, atingindo 211,6 bilhões de reais, uma perda de R$ 7,3 bilhões. O rendimento médio, porém, aumentou 2,0%, chegando em R$ 2.420, o que ressalta uma perda mais intensa nas ocupações com rendimentos abaixo da média.

A desestruturação observada do mercado de trabalho expõe os graves problemas econômicos vivenciados, que estão se encaminhando através de uma espiral recessiva: já que a perda das ocupações não só afeta as atividades econômicas diretamente, como também o potencial de consumo a partir do rendimento garantido pelas mesmas, que se reforçam mutuamente.

Dessa maneira, ressalta-se a importância das políticas de garantia do emprego e renda, mas também se demonstra a necessidade urgente de programas mais amplos referentes ao crédito de empregadores e consumidores, assim como de incentivos fiscais, tanto tributários como de investimento público-privado, que possam estimular a criação de renda e a expansão da atividade econômica, o que reverteria a espiral recessiva e, portanto, também a queda da arrecadação e do emprego.

Leia mais

Santa Catarina registra em abril maior retração no mercado de trabalho desde 2004

Término das contratações temporárias impacta na desocupação do primeiro trimestre de 2020

Leia também

INSTITUCIONAL 24 abril, 2024

Fecomércio SC participa do primeiro Café da Manhã da International Fresh Produce Association em Santa Catarina

ECONOMIA 24 abril, 2024

Intenção de consumo das famílias catarinenses caiu 2,8% em abril, aponta pesquisa

INSTITUCIONAL 22 abril, 2024

Fecomércio SC apresenta 5ª Agenda Legislativa para parlamentares catarinenses em Brasília

ECONOMIA 18 abril, 2024

Pesquisa indica aumento de 13% na expectativa de gasto médio para o Dia das Mães, relacionado ao ano anterior